terça-feira, abril 03, 2007



Caldo que escorre de mim


Pago pelo que mereço. A garrafa de vinho, medíocre, é a única que resolve acompanhar-me hoje. Procuro a caneta num estojo precisamente confuso. Sinto saudades de ti. Às vezes é como se não achasse a caneta neste miolo. Sinto falta de ti e sinto falta de dizê-lo. Fazer os mesmo apelos rotineiros e vê-la responder sorridente como se ainda fossemos os fogosos pássaros que éramos em nuestro ninho. Um maldito nó desce pela garganta. Tudo o que mais quero é que alguém me ouça nesse instante. Quem me ouve és tu detestável pedaço de celulose. Grafias frias de mais uma noite sem ti. Outro gole. Interjeições obscuras. A música me confunde. O galo, impertinente, canta. Quem nesse mundo ainda não se convenceu de que os galos são os seres mais impertinentes? Porém ainda gosto destas figuras boêmias. Odeio o que digo e odeio precisamente por nunca deixar de dizê-lo. Escrevê-lo. Em suma, por onde andas? Gostaria de vê-la e viver talvez uma última, derradeira, etílica, sobriébria, sólida, estrondosa, ainda que não fosse a última noche. Mas por onde andas tu meu pequeno caldo que escorre de mim mesmo? Deste caldo que se esgota e escorre da erma lua sobre nós.